Etapas no desenvolvimento de um produto - Ponto de vista do desenhador (designer)
O desenvolvimento de novos produtos requer o domínio de várias áreas do conhecimento, relativamente a aspectos que nem sempre são óbvios. Este artigo abordada alguns temas mais técnicos. Não é uma análise exaustiva, é sim a apresentação de alguns tópicos que poderá achar pertinentes.
É bem provável que quem inicia um percurso de desenhador projetista, ou seja aprendiz, tenha já tido a curiosidade natural de pensar como é que nasce um produto. É uma questão aparentemente simples, mas que envolve várias aspectos e alguns deles, poderão ser menos óbvios.
Um produto surge quase sempre de uma necessidade, mas quase? Sim, quase, porque nem sempre é assim. Vivemos numa sociedade consumista e certos produtos são como que forçados a entrar no mercado. A necessidade vem à posteriori, quase sempre induzida por campanhas publicitárias agressivas e bem direcionadas com o objetivo de convencer o consumidor com a ideia de que precisa "muito" daquele objecto. Este ponto, só por si, muda a base do início tradicional do projeto, a necessidade. Podemos afirmar que há uma necessidade, mas já não é a necessidade do consumidor, é sim a necessidade da empresa vender para continuar a fazer dinheiro, muito embora o mercado possa estar satisfeito. É aqui que entra o Marketing, um termo inglês, que traduzindo livremente significa:
fazer o consumidor gastar o seu dinheiro em algo que... provavelmente não precisa.
Voltando aos princípios do desenvolvimento tradicional de um produto, são amplamente conhecidos e seguem a seguinte ordem:
- Identificação ou indução de uma necessidade;
- Transformação da necessidade em algo exequível;
- Investigação;
- Criação das especificações base;
- Processo criativo, ideias;
- Criação de soluções para as ideias;
- Análise das alternativas às ideias;
- Criação de protótipo e testes laboratoriais;
- Seleção da melhor das soluções encontradas;
- Produção;
- Marketing e comercialização;
- Uso do produto no utilizador final (manutenção e reparação).
São estas as etapas comuns no desenvolvimento tradicional. Como desenhador deve então ter em mente uma série de variáveis, sobretudo a sexta etapa "criação de soluções para as ideias", nomeadamente:
- Respeitar normas;
- Implicações ambientais;
- Segurança;
- Ergonomia;
- As várias vertentes da estética;
- Materiais a usar;
- Possíveis implicações legais;
- Prever futuras implicações (ex. compatibilidade com equipamentos futuros);
- Necessidades especiais para a produção, tanto humanas como de máquinas.
Tudo isto sem nunca por de parte duas variáveis muito importantes, o custo e o tempo, tempo que na realidade acaba por resultar também ele em custo.
Este percurso é levado a cabo por uma equipa multi-disciplinar, e o desenhador projetista ou designer é uma das peças centrais neste puzzle.
O que se espera do desenhador projetista ou designer?
Hoje com as poderosas ferramentas CAD o trabalho do desenhador passa por:
- Participar no processo criativo de formação de ideias;
- Desenhar os conceitos iniciais;
- Realizar os cálculos necessários;
- Escolher os diversos elementos normalizados;
- Preparar desenhos para o protótipo;
- Acompanhar o desenvolvimento do protótipo;
- Realizar alterações nos desenhos;
- Criar desenhos para a produção;
- Realizar os demais desenhos para manutenção, controlo de qualidade;
- Realizar ilustração;
- Criar dossier do produto;
- Arquivar desenhos;
- Manter a base de dados dos dossiers técnicos organizados.
As funções podem ser mais ou menos, dependerá da estrutura da equipa de desenvolvimento da empresa.
Esta lista, que não pretende ser exaustiva nem algum tipo de regra, pode funcionar como uma lista de temas a pensar sempre que um produto está a ser desenvolvido, uma análise passo a passo, ponto a ponto, com a ponderação necessária em cada um dos tópicos. A pressão, tantas vezes impostas, não permite esta análise e isso pode resultar na criação de um produto que não é capaz de cumprir o seu desígnio.